Na última matéria deste blog, falei um pouco sobre o meu
hábito colecionista e sobre a coleção de rótulos de cerveja que eu mantenho.
Coleções de rótulos são uma forma legal de agregar ainda mais sentido à
experiência de beber cerveja e, com o tempo, podem se transformar em registros
pessoais de seu aprendizado e suas experiências cervejeiras. Se comparadas às
coleções de garrafas ou latas, elas exigem menos espaço e podem ser ampliadas
com maior facilidade – com isso, é maior a probabilidade de que durem mais
tempo e atrapalhem menos a sua vida.
Contudo, tirar e guardar rótulos tem seus segredos. Com este
post, pretendo compartilhar com meus leitores as técnicas que desenvolvi ao
longo de cinco anos de colecionismo incessante, para ajudar a todos os que
tenham interesse em iniciar uma coleção de rótulos. As dicas a seguir servem
também, perfeitamente, para coleções de rótulos de outras bebidas com garrafas
de vidro (como vinhos ou destilados), mas eu pretendo me focar nas cervejas. A
parte mais difícil dessa forma de colecionismo refere-se às formas mais viáveis
de retirar os rótulos das garrafas sem danificá-los, preservando sua
integridade física bem como a vivacidade das cores. Afinal de contas, um dos
baratos de uma coleção de rótulos é que eles possuem um design atraente e
chamativo, então não teria muito sentido sacrificar sua visualidade. Desvendado
esse terrível mistério, darei ainda algumas sugestões para organizar a guardar
sua coleção.
Como retirar os
rótulos
![]() |
E há, é claro, aquelas que
combinam todos os
materiais
possíveis numa mesma
garrafa.
Fonte:
sidecarspeakeasy.com |
A primeira coisa que precisa ficar clara a esse respeito é
que não existe uma única técnica mágica que você possa usar em casa e que te
permitirá remover eficientemente todos os tipos de rótulos. Cada rótulo emprega
um tipo de material diferente, e cada material requer técnicas distintas:
alguns são de papel fino, outros de papel mais grosso, outros ainda de PVC,
alguns são metalizados, outros possuem uma camada plástica por cima, diferentes
tintas podem ser empregadas para sua impressão etc. Além do material, há vários
tipos de colas usadas pelos fabricantes, e cada uma vai ceder melhor a um
método de remoção.
Dito isso, há três técnicas básicas (e algumas variações)
que eu uso para remover os rótulos. Antes de apresentá-las, cabe um alerta
inicial: não force a barra. Esse é o cuidado mais essencial para conseguir
remover os rótulos sem danificá-los demasiadamente. Se você estiver tentando uma
técnica e ela não estiver funcionando, não insista muito. Você pode aumentar o
tempo de imersão em água ou a temperatura da garrafa, mas se, mesmo assim, não
estiver funcionando, mude de estratégia. Em especial, se você começar a
perceber que precisa aplicar força para descolar e o rótulo está se rasgando, pare.
Com o tempo, você irá pegar experiência e perceber facilmente até que ponto
pode forçar.
As técnicas de remoção podem ser divididas em três
princípios básicos:
- Imersão em água: este é o método mais simples. Encha a garrafa com água e mergulhe-a num recipiente com água morna e um pouco de detergente ou sabão em pó. Alguns rótulos saem com facilidade em poucos minutos, enquanto outros, com a cola mais resistente e o papel mais fino, podem requerer até 48 horas de imersão para se obter um bom resultado. Tome cuidado com a temperatura da água, que não deve estar quente demais (teste com as mãos), ou você corre o risco de danificar a tinta de alguns rótulos. Os rótulos que reagem bem a este método são os de textura porosa, permeáveis à água, e aqueles que não são colados de forma homogênea, em que você nota que existem algumas pontinhas “se soltando” do vidro. Impressões metalizadas e colas mais resistentes (como as das cervejas americanas) exigem maior tempo de imersão.
- Aquecimento da garrafa: rótulos autoadesivos costumam desgrudar com facilidade em altas temperaturas. Para conseguir isso, leve a garrafa ao forno de cozinha por 5-10 minutos e, quando o vidro estiver bem quente (a ponto de você não poder tocá-lo com as mãos nuas), segure a garrafa com uma luva térmica, descole uma pontinha do rótulo com um estilete e puxe o restante com os dedos. Alguns saem como mágica, enquanto outros exigem que você aplique um pouquinho de força, com cuidado. Preste atenção ao tempo de forno: se você deixar o rótulo por tempo demais, pode acabar torrando o papel! Para evitar que isso aconteça, pode deixar a porta do forno levemente entreaberta enquanto aquece as garrafas (especialmente se você estiver aquecendo várias ao mesmo tempo). Rótulos autoadesivos, que colam de forma homogênea no vidro da garrafa, normalmente com películas plásticas protetoras por cima, como os da maioria das cervejas artesanais brasileiras, reagem bem a este método. Mas tome cuidado com os rótulos de material metalizado (como as da linha especial da Eisenbahn) e aqueles feitos de plástico (como os da Colorado), que vão deformar com temperaturas muito altas. Nesses casos, apenas aqueça de leve a garrafa e puxe: o rótulo sai com facilidade. Uma variante desse método consiste em soprar ar quente no rótulo com um secador de cabelo, o que vai funcionar bem com rótulos metálicos ou plásticos, mas nem tanto com os mais aderentes.
- Filme autoadesivo transparente: trata-se de um tipo de adesivo plástico transparente, normalmente usado para plastificar livros e superfícies. O mais famoso, fabricado pela Vulcan, é conhecido pelo nome comercial de Contact e pode ser comprado em qualquer papelaria. Este método de remoção funciona da seguinte maneira: após medir os rótulos, corte pedaços do adesivo e aplique-os diretamente sobre os rótulos molhados, cobrindo-os inteiramente e deixando uma folga em cada borda. Esfregue bem para garantir que o adesivo aderiu inteiramente ao rótulo e puxe num movimento rápido e contínuo. Se tudo der certo, a camada superior do rótulo deverá sair junto com o filme adesivo, deixando na garrafa apenas a cola e a camada inferior do papel, branca. Aí você recorta as rebarbas e fica com o rótulo já devidamente plastificado. Este método é o mais trabalhoso, sendo indicado para os casos em que os dois métodos acima já tiverem sido tentados sem sucesso. Tome cuidado com a gravata, que é especialmente manhosa devido à superfície irregular do gargalo da garrafa, o que dificulta a aplicação do adesivo transparente.
Até hoje, a combinação desses três métodos e suas variações
me permitiu extrair os rótulos de todas as cervejas que eu já bebi na vida. Os
únicos que tiveram de ficar de fora, infelizmente, foram as garrafas com rótulos
serigrafados (ou seja, impressos diretamente sobre o vidro). Com o tempo, você
será capaz de saber qual método deverá usar apenas ao analisar o rótulo com os
olhos e os dedos – até lá, comece testando a imersão, depois o forno, e por
último a película transparente. Contudo, esses três métodos não resolvem todos
os nossos problemas: afinal de contas, depois de tirar os rótulos, o que fazer
com eles?
Como guardar os
rótulos
![]() |
O primeiríssimo rótulo da minha coleção, colado na
folha sulfite.
Minha ausência de técnica resultou em estrias que você
conseguirá
ver se ampliar a imagem.
Fonte: acervo
pessoal
|
Conheço algumas pessoas que simplesmente guardam os rótulos
avulsos em uma pasta, mas, com o tempo, torna-se progressivamente mais difícil
organizá-los se você fizer assim. Além disso, os rótulos autoadesivos, que saem
da garrafa ainda com a cola no verso, não podem ser guardados com tanta
facilidade, pois grudam uns nos outros. Por isso, eu costumo colar todos os
rótulos em folhas de papel sulfite branco. Colo o rótulo, o contrarrótulo e a
gravata de uma determinada cerveja juntos, na mesma folha, já devidamente
secos, caso tenham sido removidos por imersão em água. Para os rótulos
autoadesivos (que você removeu usando o método de esquentar a garrafa no
forno), normalmente não precisará de cola nenhuma, pois a cola do próprio
rótulo já faz o serviço. Para os demais, eu uso cola em bastão comum, que tem a
vantagem de poder ser removida com facilidade: basta imergir novamente a folha
em água morna que a cola desgruda.
Um desafio são os rótulos transparentes, como o da Heineken.
Eles normalmente usam cores e elementos visuais pensados para funcionar em
contraste com a cor da garrafa (âmbar/marrom, verde ou transparente – nesse
caso, o contraste é com a cor do líquido). Quando você cola esses rótulos em
papel branco, o contraste não funciona e o rótulo tende a ficar ilegível, ou
pelo menos visualmente desinteressante. Por isso, eu costumo ter folhas de
papel colorido (verde, marrom escuro e alaranjado). Ao remover um rótulo desse
tipo, em vez de colá-lo diretamente sobre o papel branco, colo primeiro num
papel com a cor correspondente à da garrafa, recorto e só depois colo sobre o
sulfite branco. O efeito fica muito próximo ao original.
Assim que você termina de colar os rótulos no papel sulfite,
normalmente a folha fica um pouco deformada, seja por causa do enrugamento
causado pela cola, seja devido à curvatura do próprio rótulo. Para alisar
completamente a folha com os rótulos colados, você pode deixá-la dentro de um
livro grande e grosso (como uma enciclopédia ou um dicionário) e colocar alguns
pesos por cima. Em um ou dois dias, a folha estará completamente lisa, pronta
para guardar. Se você quiser guardar os rótulos avulsos, sem colar em folha
nenhuma, também pode alisá-los da mesma forma.
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Os quatro fichários da minha coleção fazem mais vista
na
estante do que qualquer livro com encadernação de luxo.
E o melhor: todos feitos
em casa!
Fonte:
acervo
pessoal |
Depois, resta saber o que fazer com todas essas folhas
cheias de rótulos colados. Uma dica é guardar cada um deles dentro de um
plástico e organizá-los dentro de um fichário grande, como aqueles
organizadores A-Z. Você pode classificá-los por nacionalidade, por estilo, por
data de degustação, por preferência pessoal ou, simplesmente, por ordem
alfabética (como eu faço) – fica a seu critério. Dentro do mesmo plástico, no
verso, eu guardo minhas anotações de degustação, que eu imprimo a partir de
fichas como as que eu publico na página de Cervejas avaliadas deste blog.
Cheguei a esse formato depois de muito tempo de experimentação, mas, no começo,
era só um registro detalhando quando degustei a cerveja, acompanhado de algumas
frases de descrição sensorial. A princípio, você vai precisar de apenas um
fichário para guardar sua coleção; mas, com o tempo, esse número certamente vai
aumentar. Minha coleção, atualmente, já está terminando de encher o 4º
organizador A-Z.
Claro que, como bom colecionador que sou, só incluo na
coleção um exemplar de cada rótulo. Admito rótulos da mesma cerveja quando há
diferenças no design ou indicações de safras diferentes impressas nos rótulos.
Se as únicas diferenças são o lote e a data de validade, não guardo. Mas isso
não significa que você precisa jogar fora os rótulos repetidos: você pode
usá-los como material de decoração. Eu decoro as capas dos próprios fichários
da coleção forrando-as completamente com rótulos repetidos: o efeito é muito
bonito e chama a atenção de qualquer um. Muita gente para quem eu mostro minha
coleção acaba gostando mais dos fichários em si do que dos rótulos guardados e
organizados em seu interior! Com criatividade, praticamente qualquer objeto
pode ser revestido com rótulos: cadernos, bandejas, caixas, quadros, o que sua
imaginação permitir! E o impacto visual é realmente impressionante.
No fim das contas, o mais importante é que a coleção é sua,
então as regras são suas. Dei algumas sugestões que podem ajudar a tornar a sua
coleção mais organizada, mas, no fim das contas, quem vai definir como vai
fazer é você. Convido todos a usarem o espaço dos comentários deste post para
dizer como vocês organizam suas coleções e usam seus rótulos. Assim, podemos
“colecionar” opções e alternativas para quem tiver interesse!